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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Dislexia





Bem, mais uma vez vou dar prioridade a assuntos relacionados com as crianças na idade escolar... Hoje então, falaremos sobre a dislexia...

Dislexia significa dificuldades na aprendizagem da leitura. Esta perturbação aparece em indivíduos com uma inteligência normal, sem problemas neurológicos ou físicos evidentes, que não apresentam problemas emocionais ou sociais, que não provêm de meios sócio-económicos culturais desfavorecidos e que não foram submetidos a processos de ensino inapropriados. 
Este tipo de definição permite-nos distinguir dois tipos de dislexia: a adquirida (por traumatismo ou lesão cerebral) e evolutiva ou de desenvolvimento (por défice de maturação). O que difere uma da outra, é que na primeira a criança sabia ler e escrever e após lesão ou trauma deixou de o conseguir fazer enquanto que na segunda, a criança apresenta desde o início da aprendizagem problemas na aquisição da leitura e da escrita.
Relativamente à etiologia da dislexia podemos dizer que factores neurológicos e factores cognitivos podem estar relacionados com a origem desta perturbação. Em relação a este sub-tema não me alargarei em desenvolvimentos, aconselho leitura adicional ou se as condições forem propícias voltaremos mais tarde a este assunto.
Continuando, bem, como podemos então saber se estamos perante uma criança com dislexia (e quando falo em dislexia, refiro-me à dislexia evolutiva). Sendo assim, podemos destacar alguns "sintomas" a que pais e professores podem estar atentos. Em geral, estas características/ sintomas da dislexia agrupam-se em dois grupos: as comportamentais e escolares. 
Em relação à primeira, podemos ter sinais de ansiedade, baixo auto- conceito, aparecimento de condutas típicas de etapas ou anos anteriores e perturbações psicossomáticas. Esta ansiedade poderá surgir devido à  forma como a criança assumiu o seu problema ou então, quando a criança tenta compensar o seu fracasso escolar através da procura de popularidade ou mesmo de comportamentos mais agressivos para com os colegas.
No que respeita às características escolares, estas são observáveis em processos de leitura e de escrita. 
Como é então a leitura de uma criança disléxica?
A leitura de um disléxico é lenta, sem ritmo, com uma leitura parcial das palavras, perda da linha em que estava a ler, confusões quanto à ordem das letras, inversões de letras ou palavras e incapacidade para ler fonologicamente. Em relação à escrita, esta afecta a componente motora do acto de escrever provocando, compressão e cansaço muscular, caligrafia deficiente, letras pouco diferenciadas, mal elaboradas e mal proporcionadas. 

Além destas dificuldades podemos ainda destacar problemas em diferenciar a esquerda da direita, problemas de orientação, associação de rótulos verbais a conceitos direccionais e alterações no domínio psicomotor. 

Para melhor compreender se a criança é disléxica ou se apresenta outra alteração que possa estar de alguma maneira relacionada com a explicação que aqui foi apresentada, aconselha-se a avaliação de um profissional da saúde. Só eles podem certificar-se do que realmente se passa com a criança. Por isso, se suspeita que lida com alguma criança que poderá ser disléxica, o melhor é levá-la a um profissional de saúde para este a avaliar e depois dos resultados, seguir ou não para uma intervenção multidisciplinar.

Espero mais uma vez, ter ajudado... Alguma dúvida, não hesitem... Acredito que ainda voltaremos a este tema. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Transtorno Comportamentais Disruptivos



Pois bem, já não dava notícias à algum tempo, peço desculpa por isso. Numa altura em que entramos no novo ano escolar e onde se vêm todos os tipos de reacções, falo-vos um bocadinho sobre este tema.
Entre estes Transtornos Comportamentais Disruptivos estão o Transtorno Desafiador e de Oposição, o Transtorno de Conduta e Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA).
Quanto à evolução deste tipo de patologia e consequências sociais associadas, são diversos os trabalhos que a relacionam com a criminalidade, perturbações psiquiátricas, consumos de drogas, precariedade laboral, prostituição, promiscuidade sexual e detenções.

§  Transtorno Desafiador e Opositivo

O Comportamento Desafiador Opositor consiste num transtorno psicológico caracterizado, principalmente, por comportamentos apresentados pelo adolescente, no sentido de agir contrariamente àquilo que se pede ou se espera delas.
Este problema tem sido, progressivamente, objecto de estudos e publicações científicas. Há um consenso entre pesquisadores quanto às características usadas para descrever este transtorno, evidenciadas, por exemplo, nos excertos a seguir:

O transtorno de oposição é um transtorno disruptivo, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, incomodam deliberadamente, possuem dificuldade de aceitar regras e perdem facilmente o controlo, se as coisas não seguem a forma que eles desejam (Serra-Pinheiro et al., 2004, p.273).
Como em todos os problemas de personalidade, este transtorno é acompanhado por diversos sintomas, sendo eles: frequentemente perdem a paciência, discutem com adultos, desafiam ou recusam a obedecer a solicitações e regras dos adultos, perturbam as pessoas deliberadamente e frequentemente responsabilizam os outros pelos seus erros ou maus comportamentos. (Kaplan; Sadock; Grebb, 2003, p.995).

Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV) os sintomas devem estar presentes por pelo menos seis meses e deve haver clara evidência de prejuízo significativo no funcionamento social, académico ou ocupacional do adolescente (Arnold, L. et all, 2004).
Este comportamento é o responsável pela maioria das indicações a serviços de psiquiatria infantil (Garland et al., 2001). Também estão associados a disfunções pessoais, familiares, sociais e no âmbito académico. Os adolescentes com transtorno desafiador de oposição têm mais disfunções familiares (Greene et al., 2002) e usam mais abordagens negativas diante do conflito (Edwards et al., 2001). São mais rejeitadas por colegas e têm maiores índices de recusa escolar (Harada et al., 2002. Para o tratamento, temos as psicoterapias de diferentes orientações teóricas, ao que têm sido usadas para tratar transtornos disruptivos, mas o maior corpo de evidência disponível na literatura atribui eficácia para abordagens cognitivo-comportamentais (Barkley et al., 2001).

§  Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA)

Na adolescência, entre os 10 e 20%, apresentam problemas emocionais, tal incidência é preocupante quando se pensa nas repercussões desses problemas no desenvolvimento pessoal (Lopes, F. 2004).
A PHDA tem como maior prevalência no sexo masculino e caracteriza-se por sintomas como hiperactividade e impulsividade, com ou sem desatenção, ou somente por aspectos desatenção inapropriados à idade.
O diagnóstico detecta um padrão persistente de sintomas que inicia, geralmente, antes dos sete anos de idade, acusando, significativo prejuízo escolar, social e ocupacional. São manifestações desta perturbação a desatenção (falta de atenção, a detalhes, dificuldade de manter atenção em actividades e de persistir nessas até ao final, dificuldade de concentração e organização, falta de cuidado com os seus materiais de trabalho, dificuldade em atender a solicitações ou instruções), a hiperactividade (inquietude, andar ou correr inadequadamente, de forma excessiva, falar demasiadamente, dificuldade em participar nas actividades sedentárias) e a impulsividade (impaciência, dificuldade para protelar respostas ou aguardar a sua vez, intromissão nos assuntos alheios, comentários inoportunos, desobediência a instruções, pegar em objectos alheios, envolvimento em actividades perigosas). Pode, no entanto, manifestar-se com um padrão predominantemente desatento, ou hiperactivo-impulsivo, ou por meio do tipo combinado, com ambos os padrões sintomáticos (Niederhofer. H, et all, 2004).
Os adolescentes com PHDA, em geral, são instáveis emocionalmente, agindo de forma impulsiva e irritadiça, podendo apresentar dificuldades em participar nas actividades de grupo, falhas na produtividade e prejuízos no funcionamento académico e social. A sensação de inadequação, baixa auto-estima e adversidades no grupo social provocam frustração, podendo gerar comportamentos autodestrutivos ou autopunitivos (DSM-IV, 2002).
Verifica-se que, praticamente, 50% dos adolescentes que apresentam esta perturbação têm também o transtorno desafiador opositivo ou de conduta. É importante diferenciar o comportamento opositivo de um adolescente (retratado anteriormente) com PHDA, e de outra, cuja atitude seja de não submissão às exigências dos outros (Faraone, LA et all, 2003).


§  Transtorno de Conduta

O transtorno de conduta está associado a disfunções pessoais, familiares, sociais e académicas (Serra-pinheiro MA, et all, 2005), assim como a um mau prognóstico para a vida adulta, com alto risco para depressão, tentativas de suicídio (Capaldi. DM, 1992), abuso de substâncias etc. Este transtorno caracteriza-se também por um padrão persistente de comportamento, no qual há importantes violações de normas sociais ou dos direitos alheios. Estas manifestações concentram-se num quadro de grupos de sintomas: actos agressivos a pessoas e/ou animais, acções que provocam danos e/ou destruição de patrimónios, fraude ou furto e sérias violações às regras e normas. O comportamento pode expressar-se em hostilidade, provocações, agressão física e comportamento cruel. Também podem ser verbalmente abusivas, impudicas, manipuladoras, desafiadores e negativistas em relação aos adultos.

No ambiente escolar, adoptam os seguintes comportamentos: mentiras, falta às aulas e vandalismos. As manifestações das condutas são variadas e estáveis, especialmente, na família, na escola e na comunidade. Três ou mais destes comportamentos devem estar presentes nos últimos doze meses ou, pelo menos, um deles nos últimos seis meses, para poder caracterizar este transtorno. Estes adolescentes sofrem muito com os prejuízos sociais e interpessoais com este tipo de manifestações psicopatológicas, pois, não conseguem desenvolver vínculos e, raramente, sentem-se culpados ou responsabilizam-se pelo seu comportamento (Smith, G. e Loeber R., 2005).    


Espero que tenha sido esclarecedor... Alguma dúvida não hesitem!